Apaixonado pela informática, pelas telecomunicações, pelos mergulhos submarinos e pelas pesquisas sobre vida extraterrena, Arthur Clarke tornou-se famoso em 1969, quando um livro seu foi adaptado para o cinema por Stanley Kubrick: 2001: uma Odisséia no Espaço. Autor de mais de 50 obras de ficção científica, ganhou renome internacional pela clareza de seu estilo (a descrição que ele faz dos modernos progressos da ciência e da tecnologia é sempre viva, acessível e correta) e pela profundidade de suas idéias (a necessidade do progresso espiritual como condição da própria sobrevivência do homem é seu tema central). A Cidade e as Estrelas (obra de 1956) é um exemplo de seu talento: a concepção do mundo descrita nesse livro é ousadíssima (estamos a mais de um milhão de anos no futuro) e toda ela verossímil (é um futuro que o progresso da tecnologia pode tornar possível). Outros livros: Encontro com Rama, Terra Imperial, Histórias de Dez Mundos, O Fim da Infância, As Fontes do Paraíso, Sobre o Tempo e as Estrelas, A Sonda do Tempo, 2010: uma Odisséia no Espaço II, Os Náufragos do Selene (Editora Nova Fronteira).

Para Val

Como jóia fulgurante, a cidade jazia sobre o seio do deserto. No passado, havia conhecido mudanças e inovações, mas agora tudo estava imóvel no tempo. Noites e dias passavam sobre a face do deserto, mas nas ruas de Diaspar era sempre crepúsculo, e a escuridão jamais chegava. As longas noites de inverno cobriam o deserto de geada, ao se congelar a última umidade caída no ar rarefeito da Terra — mas a cidade não sofria calor ou frio. Não tinha contato com o mundo exterior. Era, em si mesma, um universo.

O Homem já havia construído cidades, mas nunca uma cidade como aquela. Algumas haviam durado séculos, outras, milênios — antes que o tempo apagasse até mesmo seus nomes. Só Diaspar havia desafiado a Eternidade, defendendo-se a si mesma, e a tudo quanto ela reunia, do desgaste moroso das eras, dos estragos da decadência e da corrupção da ferrugem.



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